
O ano de 2026 deverá marcar um ponto de viragem para o transporte marítimo e para as cadeias globais de abastecimento, num contexto em que as empresas procuram adaptar-se a um ambiente mais fragmentado, regulado e volátil. Depois de um período de forte instabilidade, o sector entra numa fase em que eficiência, resiliência e previsibilidade passam a ter prioridade sobre o simples crescimento de volumes.
A geopolítica continuará a ser um dos principais factores de risco. Conflitos prolongados no Médio Oriente, tensões no Mar Vermelho, instabilidade no Mar Negro e a relação cada vez mais estratégica entre Estados Unidos, China e União Europeia mantêm as rotas comerciais sob constante pressão. Para muitos carregadores, a diversificação de fornecedores e de corredores logísticos deixou de ser uma opção e passou a ser uma necessidade estrutural. Ao mesmo tempo, o redesenho das cadeias de produção deverá ganhar força. Estratégias de nearshoring e friendshoring continuam a avançar, sobretudo na Europa e na América do Norte, reduzindo dependências excessivas da Ásia em determinados sectores. Esta reorganização não elimina o comércio global, mas altera os fluxos tradicionais, cria novas rotas e aumenta a relevância de hubs logísticos bem posicionados.
No transporte marítimo de contentores, 2026 será também um ano de ajustamento de capacidade. Apesar da entrada de novos navios nos últimos anos, as companhias continuam a gerir a oferta com disciplina, recorrendo a blank sailings, alianças operacionais e redes mais flexíveis. A volatilidade das tarifas deverá manter-se, embora longe dos picos observados durante a pandemia, com maior diferenciação entre rotas estratégicas e secundárias.A transição energética será outro eixo central. Regulamentos ambientais mais exigentes, como os mecanismos europeus de descarbonização do transporte marítimo, obrigam armadores e operadores logísticos a acelerar investimentos em navios mais eficientes, combustíveis alternativos e soluções digitais de optimização. Contudo, o ritmo dessa transição será desigual, condicionado por custos elevados, incerteza tecnológica e falta de infraesstruturas adequadas em muitos portos.
No plano operacional, a digitalização e a automação deverão ganhar novo impulso. A utilização de dados em tempo real, inteligência artificial e sistemas de previsão torna-se essencial para gerir riscos, antecipar disrupções e reduzir custos. Ainda assim, persistem desafios ligados à interoperabilidade de sistemas, cibersegurança e escassez de mão-de-obra qualificada.
Por fim, cresce a pressão sobre os carregadores para equilibrar eficiência económica com responsabilidade ambiental e social. Clientes finais, investidores e reguladores exigem maior transparência sobre emissões, condições laborais e impacto ambiental, tornando a logística um elemento cada vez mais estratégico na competitividade das empresas.Em síntese, 2026 não será um ano de normalidade plena para as cadeias de abastecimento, mas sim de consolidação de novas regras. Num sector habituado a navegar entre ciclos, a palavra-chave passa a ser adaptação, num mundo em que a logística deixou de ser invisível e passou a ocupar um lugar central na economia global.








