
O transporte marítimo de contentores sofreu uma transformação profunda ao longo do primeiro quarto do século XXI, marcada por uma forte concentração da capacidade mundial nas mãos de um número cada vez mais reduzido de armadores.
O sector passou de um mercado fragmentado para uma estrutura dominada por grandes grupos com presença global e elevado poder negocial. Esta mudança resultou de uma combinação de factores. As sucessivas vagas de fusões e aquisições reduziram drasticamente o número de operadores relevantes, enquanto a aposta em navios de grande e muito grande porte permitiu ganhos de escala difíceis de acompanhar por empresas de menor dimensão.
Em paralelo, as alianças entre armadores tornaram-se peça central da estratégia operacional, garantindo maior controlo sobre a oferta de capacidade nas principais rotas comerciais.A pandemia de covid-19 funcionou como um acelerador deste processo. Num período de grande volatilidade logística, os grandes armadores conseguiram ajustar a capacidade, manter níveis elevados de rentabilidade e reforçar investimentos, enquanto operadores mais pequenos enfrentaram dificuldades financeiras ou foram absorvidos pelo mercado.
O desequilíbrio resultante consolidou uma hierarquia clara no transporte marítimo mundial. Actualmente, poucas companhias concentram a maior parte da frota global de porta-contentores, condicionando a relação com portos, carregadores e operadores logísticos. Esta realidade levanta preocupações quanto à concorrência, à dependência das cadeias de abastecimento e à capacidade de resposta do sistema marítimo a choques futuros, num sector essencial para o comércio internacional.