
O tráfico de droga e a actuação de redes de crime organizado estão a ganhar uma dimensão crescente nas cadeias logísticas internacionais, aproveitando-se da complexidade do transporte marítimo e da enorme circulação diária de contentores para operar quase invisíveis entre fluxos legítimos de mercadorias.
Os portos comerciais, enquanto nós críticos do comércio global, tornaram-se alvos preferenciais destas organizações, que recorrem a métodos cada vez mais sofisticados para introduzir estupefacientes no circuito legal. A utilização de contentores refrigerados, cargas aparentemente banais e rotas de elevado tráfego permite diluir o risco de detecção e explorar fragilidades operacionais ao longo da cadeia de abastecimento.
Segundo especialistas do sector, o problema deixou há muito de ser apenas policial. A infiltração criminosa envolve trabalhadores portuários, operadores logísticos, motoristas e intermediários, criando redes paralelas que actuam dentro das próprias infra-estruturas. Em muitos casos, basta um pequeno elo comprometido para permitir a extracção ou introdução de cargas ilícitas sem levantar suspeitas.A pressão sobre os sistemas portuários é agravada pelo aumento do volume de comércio marítimo e pela necessidade de rapidez nas operações. Com apenas uma pequena percentagem dos contentores sujeitos a inspecção física, as organizações criminosas exploram essa assimetria, recorrendo a corrupção, intimidação e tecnologia para antecipar controlos e contornar mecanismos de segurança.
As autoridades alertam que o impacto vai muito além da droga. Estas redes utilizam os mesmos canais para branqueamento de capitais, tráfico de armas, contrabando e outras actividades ilegais, comprometendo a integridade das cadeias logísticas e colocando em risco a reputação de portos e operadores.Perante este cenário, cresce a exigência de uma resposta integrada. Investimentos em inteligência artificial, análise de dados, cooperação internacional e partilha de informação entre autoridades aduaneiras, polícias, operadores portuários e armadores são vistos como essenciais para travar um fenómeno que é, por natureza, transnacional.
A luta contra o crime organizado nos portos deixou de ser apenas uma questão de segurança marítima. É hoje um desafio estrutural à economia global, onde a eficiência do comércio internacional depende, cada vez mais, da capacidade de proteger as cadeias de abastecimento contra infiltrações silenciosas, mas profundamente corrosivas.