Portos nacionais em maré baixa: tráfego recua 6,6% até Abril.

De acordo com os dados da AMT – Autoridade da Mobilidade e dos Transportes, a actividade dos portos comerciais do continente português atravessou um período de retracção no início de 2025, com os dados referentes ao primeiro quadrimestre a revelarem um abrandamento generalizado no movimento de carga.

Entre Janeiro e Abril, registou-se uma movimentação total de 27,4 milhões de toneladas, o que corresponde a uma quebra de 6,6% face ao mesmo período do ano anterior. O mês de Abril, isoladamente, evidenciou uma queda ainda mais expressiva, de 11,5%, contribuindo para inverter a recuperação que vinha sendo observada desde o início do ano. Esta contracção surge num contexto económico e geopolítico marcado por incerteza global. Apesar do Instituto Nacional de Estatística ter estimado um crescimento homólogo do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,6% no primeiro trimestre, verificou-se uma redução em volume face ao trimestre anterior.

Este abrandamento é explicado por uma quebra do consumo privado e pela desaceleração das exportações. A instabilidade nos mercados internacionais, causada por factores como os conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente, a insegurança no Mar Vermelho e a reorientação da política comercial dos Estados Unidos, tem vindo a exercer pressão negativa sobre o transporte marítimo e a actividade portuária nacional.

Ao nível do desempenho por porto, apenas Aveiro e Viana do Castelo escaparam à tendência negativa, com crescimentos de 1,4% e 13,3%, respectivamente. Em sentido contrário, destacam-se as quebras significativas nos portos de Sines (-9,9%), Setúbal (-8,5%) e Figueira da Foz (-13%). Faro, por seu lado, voltou à actividade em Abril, mas com números residuais. Também os portos de Leixões e Lisboa, que haviam mostrado sinais de recuperação no primeiro trimestre, registaram quebras ligeiras neste último mês. O tráfego de contentores – uma componente crucial para o comércio marítimo e responsável por 41,5% da carga total movimentada – também não escapou à tendência de declínio. Entre Janeiro e Abril, foram movimentados 986 mil TEU (unidades equivalentes a contentores de 20 pés), representando uma descida de 6,3%. Esta redução foi fortemente influenciada pela quebra no porto de Sines (-10%), que representa 56,9% do tráfego nacional de contentores. A Figueira da Foz e Aveiro registaram quebras muito acentuadas, enquanto Setúbal e Leixões apresentaram quedas ligeiras. Lisboa foi o único porto com crescimento neste segmento (+4,7%).No que respeita ao tipo de tráfego, as operações com o hinterland representaram 55,7% do total, com Leixões, Sines e Lisboa a liderarem esta componente. Já o tráfego de transhipment – operações de transferência entre navios – concentrou-se quase exclusivamente no porto de Sines, responsável por 92,7% deste segmento. Também o número de escalas de navios registou uma redução. Em Abril houve 821 escalas (-10,3%), agravando o total acumulado do ano para 3 016 (-3,3%). Excepções positivas foram observadas nos portos de Lisboa, Viana do Castelo e Portimão. Ainda assim, a dimensão média dos navios aumentou ligeiramente (+0,9%), com Sines a manter-se como o porto com navios de maior porte, apresentando uma arqueação bruta média superior a 48 mil.

Quando comparados os resultados com o sistema portuário espanhol, a desvantagem portuguesa torna-se evidente. Enquanto os portos nacionais registaram uma quebra de 6,6% no volume de carga movimentada, os espanhóis registaram apenas uma redução de 1,8%. No tráfego de contentores, Espanha manteve os níveis do ano anterior (5,9 milhões de TEU), ao passo que Portugal caiu 6,3%. Ainda que ambos os países tenham apresentado crescimento no tráfego com o hinterland, Espanha registou uma variação mais dinâmica (+6,2% contra +3,5% em Portugal). Já no segmento de transhipment, a quebra em Portugal (-16,4%) foi nitidamente superior à de Espanha (-5,3%).

Num contexto marcado por instabilidade externa e desafios logísticos, os portos portugueses enfrentam um início de ano em maré baixa, com indicadores que evidenciam a necessidade de reforçar a competitividade e a resiliência do sistema portuário nacional.

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