Elevação da performance dos portos portugueses no sistema global do shipping.

Os portos de Portugal deparam-se, na actualidade, com o imperativo de redefinir o seu papel no sistema logístico internacional.

A sua localização atlântica constitui, sem dúvida, uma vantagem geoestratégica, mas a geografia, por si só, deixou de ser garantia de relevância. Num contexto dominado pela eficiência das cadeias logísticas, pela interconectividade multimodal e pela competição entre redes, os portos devem ser entendidos como nós dinâmicos, integrados funcionalmente em sistemas regionais e globais.

Torna-se evidente a necessidade de transitar de um modelo portuário centrado em infraestruturas físicas e movimentação de carga para um modelo logístico centrado em valor, conectividade e especialização. Os portos portugueses não devem operar em concorrência directa, mas antes como elementos diferenciados e articulados de um sistema nacional integrado. O porto de Sines, com a sua profundidade, capacidade industrial e posição de charneira transatlântica, deve assumir-se como hub oceânico e energético. Leixões e Setúbal podem afirmar-se como portos regionais de alimentação e redistribuição (feedering), apoiando corredores logísticos terrestres e mercados interiores. Lisboa, pela sua centralidade e dimensão urbana, poderá ter um papel complementar, como interface intermodal de elevada densidade de serviços, orientado para mercadorias de maior valor acrescentado e soluções de distribuição urbana.

A regionalização portuária, neste sentido, não significa dispersão de recursos ou fragmentação institucional, mas sim uma arquitetura funcional onde cada porto contribui com competências próprias para o desempenho do sistema como um todo. Esta articulação poderá ser reforçada por plataformas logísticas interiores estrategicamente localizadas, como as de Aveiro, Poceirão ou Évora, que prolonguem os serviços portuários para o interior e favoreçam a criação de corredores de comércio mais resilientes.A eficiência operacional continua a ser um fator determinante para a competitividade. A implementação de indicadores de benchmarking, como tempos médios de rotação de navios, utilização de cais, produtividade por grua, custos logísticos por tonelada, permitiria avaliar com rigor o desempenho dos portos portugueses face aos seus congéneres europeus.

A digitalização dos fluxos logísticos e a adopção de soluções inteligentes, como sistemas portuários integrados e automatização de terminais, são igualmente fundamentais para garantir previsibilidade, fiabilidade e redução de custos operacionais. Os contratos de concessão devem ser revistos com base em critérios de desempenho objectivos e ajustados à evolução tecnológica e ambiental.Outro aspecto fulcral é a ligação dos portos ao seu hinterland. A dependência excessiva do transporte rodoviário e o fraco aproveitamento da ferrovia representam um entrave à competitividade. Importa completar com urgência a ligação ferroviária de Sines a Badajoz e Madrid, garantindo interoperabilidade e prioridade logística. A reabilitação e modernização dos acessos ferroviários a Setúbal e Leixões deve acompanhar esta estratégia, articulando-se com os corredores transeuropeus de transporte. O desenvolvimento do transporte marítimo de curta distância, sobretudo com o Norte de África e a fachada atlântica europeia, pode reforçar a resiliência do sistema e reduzir a pegada carbónica do sector.

Por fim, importa repensar o modelo de governação portuária em Portugal. A actual estrutura, demasiado centralizada e tecnocrática, carece de uma visão estratégica partilhada entre os vários actores — autoridades portuárias, operadores logísticos, administrações regionais, utentes e comunidades locais. Uma instância de coordenação nacional, com competências técnicas e legitimidade institucional, permitiria alinhar os investimentos, racionalizar recursos e garantir coerência entre políticas sectoriais. Este organismo poderia, inclusivamente, promover políticas de formação profissional, inovação tecnológica e transição ecológica, assegurando que o sistema portuário acompanha as grandes tendências estruturais da economia marítima global.Em síntese, os portos portugueses devem ser entendidos como activos logísticos integrados e inteligentes, que contribuem não só para a balança comercial, mas também para a coesão territorial, a transição energética e a projecção internacional do país.

Só através de uma abordagem sistémica, assente na cooperação funcional, na eficiência mensurável e numa visão estratégica partilhada, se poderá garantir que os portos de Portugal deixam de ser apenas pontos de passagem para se tornarem plataformas centrais do comércio euro-atlântico do século XXI.

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