
A recente crise no Mar Vermelho veio comprometer gravemente os progressos ambientais alcançados pela União Europeia no sector do transporte marítimo, em particular no que respeita aos navios porta-contentores. Segundo dados divulgados pelo sistema europeu de monitorização de emissões (EU MRV), as emissões de dióxido de carbono (CO₂) provenientes destes navios aumentaram 45% em 2024, invertendo por completo a tendência de redução que se vinha a registar desde 2018. Estima-se que, no ano passado, os porta-contentores emitiram 52,7 milhões de toneladas métricas de CO₂, em vez das 34,7 milhões previstas – um acréscimo de cerca de 18 milhões de toneladas, valor equivalente às emissões anuais de um país como o Camboja.
Esta inversão deve-se, essencialmente, à insegurança que se tem vindo a intensificar no Mar Vermelho, onde ataques a navios mercantes por parte de grupos Houthi obrigaram as principais companhias de navegação a evitar o Canal do Suez, optando por rotas alternativas que contornam o continente africano através do Cabo da Boa Esperança. Estas rotas, significativamente mais longas, exigem mais tempo de navegação e maior consumo de combustível, anulando os benefícios das estratégias anteriormente adoptadas, como o “slow steaming“, que consistia na redução da velocidade dos navios para poupar combustível e limitar emissões. Para compensar o tempo adicional exigido pelas novas rotas, muitas embarcações foram obrigadas a aumentar a sua velocidade de cruzeiro, agravando ainda mais o impacto ambiental da mudança.
Este retrocesso ocorre num momento particularmente sensível, em que a União Europeia procura consolidar as suas políticas de transição energética e combate às alterações climáticas, nomeadamente através da aplicação do regime de comércio de licenças de emissão (EU ETS) ao transporte marítimo. A crise evidencia, pois, a fragilidade das cadeias logísticas e dos compromissos ambientais face a factores geopolíticos imprevisíveis. Embora outros segmentos do transporte marítimo também tenham registado aumentos moderados nas suas emissões, o transporte de contentores foi, sem dúvida, o mais afectado, em virtude da sua dependência crítica de prazos e itinerários fixos.
Face a este cenário, especialistas e entidades do sector defendem a necessidade de reforçar a resiliência do transporte marítimo europeu, apostando em rotas diversificadas, tecnologias mais eficientes, e combustíveis alternativos de baixo teor carbónico. Igualmente importante será o investimento em segurança marítima e cooperação internacional, de modo a garantir a livre circulação de mercadorias em zonas estratégicas como o Mar Vermelho, sem comprometer os objectivos ambientais traçados.